sexta-feira, 18 de julho de 2008

As visitas...

Li à algum tempo numa revista que ali tenho um artigo que falava das visitas que acontecem aquando do nascimento de um bebé.

Vou transcrever algumas partes do texto porque realmente é muito bom.

"O bebé nasce. E o momento do nascimento, é um momento irrepetível e íntimo dos pais e do bebé, mesmo que rodeado de técnicos. É preciso que os pais saibam isto e não deixem invadir este espaço seu, nem que alguém substitua as suas funções, direitos, deveres e emoções. O que é, devo acrescentar, «politicamente» complicado, requer diplomacia e até, quantas vezes, assumir conflitos e desagrado.

Desculpem ser tão taxativo, mas é assunto onde cada vez mais creio não haver lugar para dúvidas: as visitas não são, regra geral, um acontecimento positivo nos primeiros dias, digamos mesmo semanas, na vida dos pais e do bebé.

Sem pôr em causa toda a amizade e boa vontade que está subjacente ao acto de visitar quem acabou de ter um filho, há efeitos colaterais que não são displicentes e que convém ter em conta.

1. O momento do nascimento é um momento particularmente íntimo e privado. Quer isto dizer que há um timming certo para o partilhar. Os primeiros dias (incluindo a estadia na maternidade ou hospital) têm de ser de uma enorme contemplação e «solidão». Há que gerir o tempo com a sua própria dinâmica, não estando dependente das entradas e saídas de terceiros. A própria perplexidade (quase incredulidade) dos pais tem de ser sentida na sua «nuvem». A paixão pelo bebé expressa-se em contemplação, que é uma atitude única, bidireccional, e que não pode ser interrompida, sob pena de não se conseguir retomar ou re-iniciar, com aumento de agressividade e sensação de stresse, o que, por exemplo, pode provocar insuficiente leite materno;

2. As visitas «atacam» por diversas razões, umas melhores, outras menos boas. O facto de, em meio urbano ou similar, se ter perdido a distribuição das pessoas por tribos ou clãs, faz com que haja uma urgência de conferir ao bebé nascido o direito de ser «herdeiro dos nossos territórios de caça». É por essa razão, estou convencido, que a primeira coisa que se diz de um bebé, é que tem «os olhos do tio», «as orelhas da avó» ou «é exactamente como tu quando eras em pequenino, como naquela fotografia que está na minha mesa de cabeceira». Os bebés puxam sempre «para o nosso lado» e há histórias tão pitorescas como «dar ares do bisavô naquele quadro que está lá na quinta». Esta necessidade é legítima, própria de quem se sente «misturado» num meio pluri-familiar, mas a altura não é realmente a melhor para essa consagração que tem raízes antropológicas mas que é muito desrespeitadora da intimidade;

3. Numa altura em que o cansaço físico é muito, em que o espírito está noutro local e em que a vivência e organização das horas é aleatória, a presença de pessoas que «ficam cinco minutos» mas acabam por se demorar a tarde inteira, encontrando outros e conversando sobre os tempos de escola, politica ou futebol, é arrasador. Como arrasador é garantir que há cadeiras para todos, chás e laranjadas e ainda algo para mordiscar. A sensação de «tirem-me deste filme», o barulho e a algazarra são extenuantes. E lá se vai o leite materno, para além do resto;

4. Há que diferenciar o nascimento do parto. Este é doloroso, inestético e quase violento. O primeiro é mágico, fantástico, saboroso. Contar trezentas vezes «como foi o parto», especialmente as suas facetas mais mórbidas (o 'povo' não quer ouvir dizer que 'foi bom', porque gosta de ouvir horrores, quanto mais não seja para ter a oportunidade a sua própria experiência, ainda mais pavorosa...), faz com que a memória da mãe tenha dificuldade em desfazer-se das partes agrestes do que acabou de viver, e conservar o que é bom;

5. É normal (e saudável) que surjam dúvidas - muitas dúvidas. No entanto, se cada visita tem a oportunidade de dizer «faz assim», «faz assado», «com o meu era assim», «com a minha era assado», os paisficam ainda mais baralhados e ansiosos. Cada um tem a experiência que tem, muitas vezes baseada em apenas um caso, mas há muitas verdades e imposição de ditames provoca nos pais uma sensação de enorme infelicidade. Depois, vai tudo embora porta fora e quem fica mergulhado em angústia são os pais;

6. Uma última razão para esta correria prende-se com a sociedade competitiva em que vivemos. Ser o primeiro a chegar, tirar uma fotografia com o telemóvel e enviar aos amigos anunciando que «já se viu» o bebé do Manel ou da Joana, dá uma sensação de vitória que pode ser muito agradável para quem o faz, mas que, para os pais, não aquece nem arrefece. E acabam por ser vitimas de mais uma «corrida de cavalos» da sociedade actual.

Os bebés precisam de sentir calma à sua volta. Qualquer ambiente disrítmico dá-lhes a sensação de perigo e fá-los acordar e chorar. Ou, pelo menos, subir o grau de alerta e ter «menos cérebro» para gestão de informação, o que perturba a organização de memória.

A constante rotação de visitas, com os seus cheiros, vozes, gestos e presenças, faz com que o bebé sinta um constante torvelinho à sua volta, impedindo-o de se organizar e de conferir ao ambiente onde está (e que não conhece) um cunho de paz e tranquilidade. E, logicamente, têm de descarregar o stresse, através do choro das 'cólicas' e de outros sintomas que assustam os pais, fazendo-os transmitir ao bebé novas doses de inquietação.

Recomendo assim, vivamente , que no momento do regresso a casa, depois de o bebé nascer, sejam impiedosos em relação às mil e uma visitas que vos invadem a casa. Uma atitude firme e decidida (também em relação aos telemóveis), uma autêntica «politica de rotweiller», é a mais aconselhável, doa a quem doer.

Será preferível que, passadas três ou quatro semanas, seja então feita a «apresentação no templo».

Quem compreender é vosso amigo e quer o vosso bem. Quem não compreender, terá bom remédio, se me faço entender, mas certamente não terá um conceito de amizade no melhor sentido. Logo...
Vão por mim - protejam-se!"

Texto de Mário Cordeiro, professor de pediatria.

Nós avisámos já que nas primeiras duas semanas não queremos visitas de ninguém, e já estão avisados que quem vier ficará á porta.

Penso que as pessoas se esquecem que depois do nascimento do bebé ainda estamos em fase de conhecimento e o cansaço é muito e a ultima coisa que queremos são pessoas a "ajudar" em vez de nos deixarem descansar e (como diz no texto) contemplar o nosso tesouro.

Na maternidade já sei que terei algumas visitas, principalmente da familia, mas também estarão restringidos a um curto espaço de tempo (apesar de na maternidade onde vou ter um horario de visita alargado) porque estaremos os três demasiado cansados e o que realmente vamos precisar é de descanso e paz.

Espero que o texto seja útil.

Beijitos

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